segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

MGMT

MGMT                                                                                               7/10
Columbia, 2013




"Estilo não substitui conteúdo"


   Que esperar de um disco dos MGMT? Desde que chamaram a atenção do público pela primeira vez, em 2008, a banda cujo núcleo criativo é composto por Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser tem tido muito que se lhe diga. Fazendo o seu début com "Oracular Spectacular", um álbum recheado de singles que nos trouxe verdadeiros hinos como "Kids", "Electric Feel" e "Time to Pretend", os MGMT têm-se desviado lentamente da sua tendência inicial de synthpop e rock electrónico, contribuindo para isso o EP experimental "Metanoia" e o brilhante segundo álbum "Congratulations". Ambos trazem-nos faixas mais longas, melodias elaboradas e muito fundadas no psicadélico e estruturas musicais complexas, bem como o uso intensivo de componentes electrónicas, deixando bastante claro para os seus fãs o rumo que o seu terceiro disco decerto tomaria.

   E no entanto, "MGMT" não deixa de parecer inesperado, atingindo-nos, logo ao primeiro contacto, de forma completamente diferente tanto de "Oracular Spectacular" como de "Congratulations". A primeira componente que nos chama a atenção é o seu som denso, pesado, construído através da colocação de camada sobre camada sobre camada de sintetizadores eclécticos, tambores ronronantes e a mais diversa variedade de sons-ambiente e elementos electrónicos que se propagam continuamente. E acaba por ser precisamente por esta razão que o álbum perde qualidade quando comparado com os dois anteriores. De facto, se há algo que se pode afirmar acerca deste disco é que poderia ser muito bom caso não soasse tão mal. A chamada "dynamic range compression" é aqui empregue de forma tão exagerada e abusiva que o álbum torna-se quase doloroso de se ouvir do início áo fim. Se "MGMT" não é melhor que nenhum dos seus antecessores, é porque a mistura aqui implementada contribui fatalmente para tal.

   Embora este aspecto faça com que o álbum seja de difícil apreciação, isto não invalida o facto de haver muito de bom a ser dito sobre "MGMT". A dinâmica do disco é impressionante: a forma como os MGMT vão de inocente alegria a desesperado terror no espaço de poucas faixas merece grande louvor.
  O início de Alien Days, primeira música do disco, traz à mente um amanhecer de primavera - o desabrochar das flores, o canto dos pássaros, os primeiros raios de sol passando por entre as folhas das árvores - criando uma atmosfera surpreendentemente agradável e acolhedora. Estados de espírito semelhantes podem ser encontrados nas alegres "Introspection" e "Plenty of Girls in the Sea", e até na saltitante "Your Life is a Lie", apesar do tema lírico tratado.
    Por outro lado, "Mystery Disease" traz à tona um lado manifestamente mais negro dos MGMT, em meio a versos como "limited sapience" e "perpetual unrest" e a uma regular mas potente batida que impele a música adiante. E "A Good Sadness", com sua introdução original e com um tom quase maléfico, mantém este "feel" negativo até ao final, marcada por uma pulsação electrónica estrategicamente posicionada e mais-do-que-alguma cobertura digital à mistura. Todas estas são grandes faixas que contribuem para a enorme musicalidade que, apesar de tudo, este álbum possui. 

   No entanto, esta abundância excessiva de efeitos artificiais é um dos recursos utilizados que acabam por tornar o álbum menos apelativo do que aquilo a que os MGMT já nos habituaram. A todo o momento somos bombardeados por uma infinidade de estímulos auditivos e modulações sonoras que acabam por distrair o ouvinte daquilo que realmente deve ser apreciado. E o que se diz dos instrumentos pode igualmente ser dito da voz de VanWyngarden que, após filtrada por centenas de ecos, reverberações e distorções, mal se percebe em meio a tanta confusão de sons. Isto é especialmente verdade para as faixas "Cool Song No. 2" e "I Love You Too, Death" que, apesar de terem melodias lindíssimas, acabam por perder-se nas suas divagações psicadélicas. "Astro-Mancy" e "An Orphan of Fortune" também prejudicam  este álbum, vagueando cegamente sem saber bem de onde vêm e para onde vão. 

   O retorno de Goldwasser e VanWyngarden não é, apesar de tudo, mal recebido. Ignorando os já referidos problemas de som, os MGMT trazem-nos um belo esforço que, com faixas de destaque como "Alien Days", "Mystery Disease", "Your Life is a Lie" e "A Good Sadness", promete agradar a muitos fãs da música alternativa. É certo que ainda há muitas melhorias a fazer, parecendo as músicas individualmente ainda bastante unidireccionais. Mas os MGMT conseguem ser bem-sucedidos nas suas imperfeições, permanecendo um dos grandes grupos da cena neo-psicadélica actual. 


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