domingo, 12 de janeiro de 2014

Modern Vampires of the City

Vampire Weekend                                                                                 5/10 
XL Recordings




"Quando a tentativa se esbarra no erro"



   Não me parece ter havido, em uma qualquer época da história da música, uma banda tão singular como são os Vampire Weekend. O modo como estes rapazes de Nova Iorque misturam as suas bases "indie" com influências como o ska, o afrobeat e até mesmo o pop tornaram-nos alvo de grande especulação, por parte da crítica, quanto àquilo que poderiam oferecer ao mundo da música, mesmo antes do seu auto-intitulado début ter chegado às lojas. O seu segundo disco, o eloquente "Contra", embora discutivelmente menos competente que o anterior, reduz a presença das guitarras e introduz mais componentes electrónicas, criando uma atmosfera completamente nova e deixando-nos na espectativa para o que o seu terceiro esforço nos poderia trazer.

   Assim, "Modern Vampires of the City" é um album que surge para dividir opiniões. Deixando para trás a grande parte das componentes que os prestigiaram em primeiro lugar, Ezra Koenig e companhia parecem focar-se, neste álbum, no lado mais "pop" do que têm a oferecer, com resultados variados que formam um conjunto, no geral, desnivelado. Os novos rumos tomados pelos Vampire Weekend revelam-se abaixo das espectativas formadas em torno dos mesmos, num álbum que, sem dúvida, deixa muito a desejar.

   Mentiria descaradamente, no entanto, se dissesse que nada se aproveita deste novo disco da banda. Pelo contrário: quando bem sucedidos, os Vampire Weekend mostram que estão longe do seu pior, trazendo-nos melodias encantadoras, ritmos contagiantes e uma entrega comovente. A primeira faixa, "Obvious Bycicle", é uma bela balada que reflecte exactamente isso, com a sua mistura interessante de batidas electrónicas e melodias vocais muitíssimo bem executadas. Apesar dos seus defeitos, o single "Diane Young" revela-se uma grande música, sendo talvez a mais "pesada" do grupo (isto é, se "pesada" é um termo que possa ser aplicado a uma banda como os Vampire Weekend). "Finger Back" é um esforço notável, desde a sua linha de percussão pouco ortodoxa até à guitarra acústica que utiliza e a sedutora ponte em vocais falados. E "Young Lion", muito embora passe a impressão de uma ideia inacompleta e acabe prematuramente, possui uma belíssima melodia de piano, lembrando outras da banda como a mais agitada "M79" e a igualmente emotiva "Taxi Cab".
   Finalmente, "Step" impõe-se como o inegável destaque do álbum. Com uma progressão de acordes algo familiar, que se repete continuamente até ao final da faixa, "Step" envolve-nos em vocais sussurrados, círculos de sintetizadores e uma letra que supera todo o repertório da banda (Os versos "Wisdom's a gift, but you'd trade it for youth/Age is an honor, it's still not the truth" estão sem dúvida entre os mais espectaculares que já ouvi).

   Infelizmente, como já referi, os defeitos que este álbum possui são muitos e demasiado flagrantes para serem compensados pelas suas qualidades. "Don't Lie" e "Everlasting Arms" incorrem na mediocridade: não sendo absolutamente terríveis, também não constituem nada de memorável, servindo mais como "fillers", condenados a aborrecer grande parte dos ouvintes. "Unbelievers" e "Hudson" são sem dúvida as piores faixas deste álbum, trazendo-nos pouco ou nada que valha a pena ouvir. "Worship You" procura trazer-nos a vivacidade que tanto cativou os fãs em músicas como "A-Punk" e "Cousins", acabando por perder-se em todo o seu ímpeto - seja pelos vocais de Koenig, que progridem muito rapidamente para que a mensagem seja devidamente apreciada, seja pela bateria galopante, que teima em fazer-se ouvir por toda a duração da música, muito embora já esteja saturada passados meros 30 segundos.
   E depois, temos "Ya Hey". E devo confessar que o primeiro sentimento que me ocorreu após ouvir esta música foi de uma profunda frustação. Isto por uma razão muito simples: "Ya Hey" tinha tudo para ser uma grande música, talvez das melhores de todo o percurso criativo dos Vampire Weekend, e não o foi. Nem o baixo proeminente, a letra inteligente, e as belas melodias dos vocais e sintetizadores foram suficientes para compensar a horrorosa modulação vocal implementada nesta faixa. E a palavra "horrorosa" é utilizada, neste caso, como um eufemismo. Os agonizantes gritos de "ya hey, ya hey" tornam a música numa experiência quase insuportável, arruinando completamente uma ideia bastante promissora. 

   Não há muito mais a dizer sobre o terceiro álbum de originais dos Vampire Weekend. Acrescentaria ainda a qualidade do conteúdo lírico que se pode encontrar espalhado por este disco, que vai desde intuições deprimentes ("You ought to spare your face the razor/ Because no one's gonna spare the time for you") até observações bem-humoradas ("You've got the luck of a Kennedy"). Mesmo assim, e sem desconsiderar as qualidades aqui presentes, as falhas do disco não têm mãos a medir. A bateria parece perdida, surgindo e desaparecendo em situações inoportunas. O baixo nunca se destaca, desvanecendo-se numa mistura pouco nivelada. A guitarra de Koenig, que antes desempenhava um papel pequeno mas decisivo, é aqui praticamente inexistente. E a produção, não sendo manifestamente má, não se revela bem sucedida em trazer à tona as componentes que tanto nos afeiçoaram a Koenig, Batmanglij, Tomson e Baio. A procura por novas sonoridades nunca deixa de ser louvável, mas a ambição dos Vampire Weekend acaba por cair face a um desempenho medíocre e, francamente, àquem das capacidades já demonstradas por esta banda. 

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