terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Midnight

Coldplay                                                                                       4.5/5
Parlophone, 2014





   Deixem-me que vos conte uma pequena história, que ocorreu há cerca de três horas. Cheguei a casa, satisfeito por ter sido publicado o meu primeiro artigo no Espalha Factos, e qual não foi a minha surpresa quando, ao ligar o computador, deparei-me com a notícia de que os Coldplay haviam acabado de lançar uma nova faixa, sem qualquer aviso prévio ou informação adicional. Ora, apesar de ser forçado a admitir que em tempos já apreciei Coldplay, a verdade é que há muito tempo não dava atenção à banda de Chris Martin. Mais especificamente, desde o seu terceiro álbum de originais, X&Y, que na minha opinião está bastante bom. Nada de espectacular, mas bom. A este seguiu-se o fraco "Viva La Vida or Death and All His Friends", e o impronunciável "Mylo Xyloto", que só escutei de passagem. Ouvir o mais novo single dos Coldplay não era, portanto, uma das minhas prioridades.

   Acontece, no entanto, que fui de facto escutar a dita "Midnight", e para colocar as coisas de forma simples, é a melhor música dos Coldplay que já ouvi. A instrumentação e arranjos empregues nos álbuns anteriores foram completamente descartados, juntamente com grande parte das tendências comerciais que impregnavam há anos as músicas deste grupo, para a criação de um som denso, profundo e extraordinariamente belo. Uma das mais marcantes características deste novo single é o seu carácter progressivo: "Midnight" constrói-se peça por peça, em encantadores tons de guitarra, sintetizador e sopros que muito fazem lembrar o mais recente trabalho das Warpaint. E esta referência serve perfeitamente para ilustrar a radical mudança que os Coldplay demonstram nesta faixa, que tão pouco tem de "Parachutes" quanto de "Mylo Xyloto". Os timbres, sempre tão limpos e abertos, são divinais, tal como a ligeira reverberação que marca presença ao longo de toda a faixa, mas o verdadeiro protagonismo pertence à voz. Chris Martin impressiona aqui como nunca antes, por versos suspirados e agudos à medida dispostos na forma de uma harmonia vocal absolutamente mesmerizante. 

   Se tenho algo a criticar em relação a "Midnight", é a sua ligeiramente excessiva produção, que por vezes amortece o som, prejudicando um pouco a experiência auditiva da música. De resto, parece-me que esta faixa cairá mal a alguns dos fãs mais dedicados da banda, que decerto estranharão a sua tão peculiar forma e renovado estilo. Não obstante, "Midnight" é feito do material com que se concretizam grandes obras: melodias cativantes, atmosfera envolvente e atitude louvável. Eu, que nunca pensava atribuir uma nota tão alta a esta banda, dou o braço a torcer - nunca os Coldplay estiveram melhor. 

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