quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Warpaint

Warpaint                                                                                               8/10
Rough Trade Records, 2014





"Atitude, beleza, sincronia"


   Mentiria se dissesse que, há mero mês, estava de todo familiarizado com as Warpaint. Se tanto, sabia isto: é uma banda americana, constituída inteiramente por mulheres e que, de forma muito vaga e abstracta, poderia ser caracterizada como "indie". Pouco que realmente despertasse o meu interesse a ponto de considerar dar atenção a, entre tantos, este grupo em particular. Foi por mero acaso, então, que resolvi pegar no seu segundo álbum de originais, "Warpaint", e dar uma oportunidade à banda de Kokal, Wayman, Lindberg e Mozgawa. E não posso dizer que esteja minimamente arrependido.

   "Warpaint" é um brilhantemente atmosférico esforço que, reunindo influências que vão do pop ao psicadélico, destaca-se como um dos melhores com que tive contacto nos últimos tempos. Numa intensa mistura de estados de espírito que passa tão facilmente pelo excitante como pelo comovente, as Warpaint trazem-nos um excelente trabalho que, desde logo, é candidato a um dos melhores do ano.

   A componente que salta à vista (neste caso, aos ouvidos) desde o primeiro momento é o forte carácter rítmico que este disco apresenta, fundando-se na importante função que a bateria desempenha, se não em todas, na grande maioria das faixas aqui presentes. Desde a inortodoxa "Intro" e a brilhante "Keep it Healthy" até musicas como "Hi" e "CC", a batida assume-se como indiscutível protagonista. Papel este que divide, sem dúvida, com o baixo, que aqui se manifesta em linhas melódicas surpreendentemente cativantes. Em "Disco//very", por exemplo, o baixo chega a ser mesmerizante, repetindo-se em linhas contínuas que acompanham vocais monotónicos para a criação de um extraordinário ambiente. "Feeling Allright", outro dos grandes destaques do disco, traz-nos outra faceta: um baixo dançante acompanhado por um ritmo regular e ao redor do qual gravitam ligeiras passagens de guitarra que dão um toque especial à faixa.

   Um outro aspecto digno de louvor deste autointitulado álbum é a diversidade de texturas e sonoridades que aqui se pode encontrar. De sua parte, a guitarra é por si só bastante ecléctica: dos regulares "strums" aos arpeggios, tremolos e feedbacks, a multiplicidade de técnicas implementadas é de uma riqueza extraordinária. Conta-se entre as músicas que se destacam neste âmbito "Intro", "Keep It Healthy", "Teese", "Love Is To Die", entre outras. As teclas também marcam forte presença, seja na forma do piano tradicional, na comovente encerradora "Son", seja nos cíclicos sintetizadores de "Biggy", outra das excelentes faixas deste conjunto. De resto, as componentes electrónicas pairam ocasionalmente sobre o disco, tal como uma vasta gama de vozes secundárias que tanto mais contribuem para a sua preponderante qualidade.

   O álbum não passa, contudo, sem as suas falhas. Melodicamente é, no seu melhor, interessante, não passando do regular na maioria das ocasiões. No entanto, ofereço o contraexemplo da inesperada mudança de tom em "Love Is To Die", estilisticamente insuperável pelo resto do disco. Algumas faixas sofrem também pela ineficácia: "Go In" não suscita qualquer interesse, "CC" é, na melhor das ocasiões, apenas medíocre, e "Teese", usufriundo de uma excelente introdução de guitarra acústica, depressa segue para uma inexpugnável monotonia. Para além disso, fica a impressão de que o álbum beneficiaria de cortes pontuais, parecendo algumas das maiores faixas excessivamente prolongadas. Mas não será isto o que separará o álbum do seu mérito. Faixas empolgantes, atmosferas absorventes e grande variedade e desempenho instrumental fazem de "Warpaint" um excelente esforço, decerto destinado às mais eloquentes recomendações. Quatro anos após o seu début, as americanas retornam com um disco que reitera a sua mensagem: o nome "Warpaint" veio para ficar. 

Sem comentários:

Enviar um comentário